O Jogo do Pau de Fafe
O que é o Jogo do Pau ?
O Jogo do Pau é a “perícia de utilizar um pau em ataque e defesa”.
Para jogar ao pau, utilizamos um Pau, Vara ou Racha (nome antigo) da altura do nariz do jogador. Dentro do nosso Jogo do Pau há vários jogos, com objectivos diferentes.
Entrevista ao Mestre Avelino
Em Cepães, em 2017.
Demonstração na Igreja de Cepães | 2012
Demonstração por altura do centenário do Rei D. Carlos. Podemos ver grande parte do nosso grupo no jogo da “Roda do meio”.
Mestre Carlos Melo – anos 1980
Entrevista da RTP em Braga, por altura de uma competição de Jogo do Pau.
Contexto do Jogo do Pau de Fafe
Até à década de 1980, estima-se que 90% dos homens de Fafe usavam um Pau nas suas deslocações e sabiam utilizá-lo, se necessário.
Até esse período de tempo, (ao longo do século XX e para trás), as desordens eram muito comuns. Aconteciam por diversos motivos: ajuste de contas, negócios, invejas, ciúmes, bairrismo e “copos a mais”. As desordens aconteciam também em diversos lugares, sendo os mais frequentes as feiras de gado e as feiras de festividades. Havia também as “esperas”, nas quelhas, nos caminhos ou nos largos, em que um grupo esperava por outro ou por um homem sozinho.
Embora também houvesse alturas em que um homem media a sua perícia de jogar ao Pau contra outro homem (combinando ambos um duelo), o mais frequente eram confrontos com vários intervenientes. A característica principal destas autênticas batalhas com paus era a imprevisibilidade, o ataque em grupo ou o ter que se defender sozinho contra vários. A justiça era feita pelas próprias mãos e era cultural e normal cada homem ser responsável por si.
Com um maior controlo policial e judicial na sociedade, esses episódios foram diminuindo e deixando de ser tão frequentes. Os homens deixaram de sair de casa com o seu Pau e a Guarda controlava os acessos às feiras e ajuntamentos.
Ao mesmo tempo que estes acontecimentos se davam no dia-a-dia, havia homens interessados em desenvolver a sua perícia de jogar ao Pau. Como tal imergiram Grupos de Jogo do Pau, com Mestres e alunos. O objectivo desses grupos era o melhoramento da destreza de jogar ao pau e a manutenção da arte. Os grupos treinavam à semana e tinham, tal como hoje, actividades que passavam pelos espectáculos demonstrativos de Jogo do Pau e, alguns elementos, faziam também o “combate” com alunos de outras escolas.
Hoje em dia, o nosso grupo treina o Jogo do Pau seguindo a sua técnica, os seus jogos, mantendo a intenção e vigor do jogo. Trata-se de manter uma tradição de Fafe muito antiga, única no país e no mundo.
A “Racha de lodo”
A “racha” é uma pau feito à moda antiga: a madeira era rachada com cunhas e a vara era feita pela forma natural como a madeira rachava; ou seja, era uma racha. Infelizmente, hoje em dia, as pessoas que faziam disso profissão em Fafe já desapareceram.
Actualmente, as varas de lodão são feitas na serração, tendo o nosso grupo de comprar e mandar cortar as árvores (que são um pouco raras e crescem lentamente) e depois mandá-las fazer.
De todas as madeiras possíveis, a vara de lodão é a que oferece maior resistência e flexibilidade, permitindo que se pratique por mais tempo de forma confortável e sem partir muitas varas.
À volta da vara de lodão há toda uma tradição, histórias e saberes. Quando cortar, como cortar, como tratar a vara, …etc. As varas são tratadas com azeite ao longo da semana, antes e depois da prática. O Azeite mantém as varas húmidas e flexíveis e faz com que as amolgadelas desapareçam. São mantidas ao alto ou deitadas para não entortarem.
Como costumam dizer os mestres: “uma vara deve ser estimada como uma mulher.”
Os nossos Jogos
No nosso país há várias escolas em actividade e cada uma delas tem a sua forma e razão de jogar. A nossa escola aplica o estilo de jogo, característico do Jogo do Pau da região de Fafe.
Além do chamado “Jogo a pau-todo” e “Jogo a uma mão”, distinguimo-nos das restantes escolas de Jogo do Pau, pela aplicação do “Jogo traçado” e pelos variados Jogos de grupo: “Roda do meio”. “Jogo de quelhas”, “Um a bater dois”, Roda do meio de dois”, “Sarilho”, “Malhada” e “Água à nora”. Temos ainda o chamado “Contra-Jogo”, um jogo de um para um.
Um jogo espectacular em que um “Batedor” tenta sair de uma roda, cercado pelos “Picadores” que o impedem.
Era muito comum nas feiras de gado ou em alturas de ajuntamentos, por motivos vários, começar uma desordem e um conflito sério. Essas desordens raramente eram de um para um, mas sim de muitos contra um ou de grupo contra grupo. Como não havia homem que não saísse de casa sem a sua “Racha”, havia a necessidade de saber defender e atacar com um pau.
Um jogo em que um jogador se encontra numa rua estreita onde o esperam ou cercam um grupo de jogadores.
Antigamente nas aldeias, devido à cobiça de namoradas ou por ajuste de contas, era comum haver esperas de um grupo a um homem que se deslocasse num determinado sítio. O local escolhido era normalmente um local estreito, chamado de “quelha”.
Um jogo muito intenso e espectacular em que, tal como as palavras dizem, dois jogadores enfrentam um.
É um jogo de bastante criatividade, manha e rapidez. Desenvolve muitas habilidades no jogador e tem diferentes variantes.
Um jogo parecido com a Roda do meio, com a diferença que o grupo de picadores enfrenta dois batedores.
Este jogo tem várias variantes e é feito com muita gente, recreando o antigo “Varrer de feira” em que dois amigos se ajudam mutuamente no confronto contra um grupo.
São jogos para treinar pancadas e defesas especiais, de forma a que o jogador se torne mais capaz.
A Malhada é feita a pares e a Água à nora é feita com grupos de 3 pessoas. São exercícios acessórios aos outros jogos.
Um jogo de combate de um para um, em que tudo pode acontecer.
Neste jogo, cada jogador encara o outro e tem por objectivo defender e atacar. É a oportunidade do jogador mostrar toda a sua perícia, manha, conhecimento e criatividade; em que tudo pode acontecer.
Jogos em demonstração
Parte 1 / de 3
No adro da Igreja de Cepães, em Maio de 2019, tendo sido filmados por uma expedição dos Estados Unidos da América.
Parte 2 / de 3
No adro da Igreja de Cepães, em Maio de 2019, tendo sido filmados por uma expedição dos Estados Unidos da América.
Parte 3 / de 3
No adro da Igreja de Cepães, em Maio de 2019, tendo sido filmados por uma expedição dos Estados Unidos da América.
Quer conhecer-nos melhor?
O nosso grupo transporta décadas de história. O Jogo do Pau, por sua vez, é uma arte que se perde no tempo, de tão antiga que é.
Sentimos um grande Orgulho pelo que representamos.
Temos uma grande Paixão, que nos dá força para continuar o que até aqui nos chegou: uma herança cultural e histórica.
Veja o nosso presente e passado: